A dura vida de um organizador de torneios

 

Que tal dedicar meses de trabalho em prol de um torneio grande, cujos custos de início (antes mesmo dos relógios serem acionados) sejam enormes, o trabalho seja árduo e as reclamações e insinuações desabonadoras contra sua pessoa sejam muitas? Parece ruim, não é? Pois é, é até pior dependendo de quem é você e de seu grau de simpatia com a comunidade enxadrística em geral.

Não é segredo para ninguém que o xadrez nacional é repleto de grupinhos. Cada grupo tem uma inclinação e aproximação com alguma entidade ou com alguma pessoa envolvida politicamente no esporte. Quando um organizador não tem um bom relacionamento com alguém que pertença a um desses grupinhos ou com alguma entidade ou político que se relaciona com o grupinho, muita gente procura “minar” o trabalho do organizador, antes mesmo do evento acontecer. É batata, a grande maioria não é crítico de verdade, mas sim alguém tentando fazer barulho e incomodar, atrapalhar, pois o sucesso do lado contrário deve ser evitado. A situação é vista como se fosse uma guerra: se ele ganha, eu perco.

É com tristeza que constatamos isto. Nos poucos torneios que organizei diretamente pela CBX (Brasileiro Amador, por exemplo), estando à frente das inscrições e todo o resto (em alguns com a valiosa ajuda do AI Mauro Amaral), experimentei de perto estas questões. Um ou outro, por se achegar mais a grupos que são “oposição” à CBX, destilou críticas das mais absurdas aos torneios, mesmo com a maioria esmagadora da comunidade enxadrística tecendo os mais rasgados elogios aos eventos e nossa organização.

Muita gente não tem a menor ideia do quanto custa para se organizar um torneio do porte do Mundial da Juventude. Mas muita gente logo se põe a escrever asneiras em blogs, para ofender o organizador. Não sou da organização desta vez, mas não gosto de injustiça. O evento foi pensado para o Rio de Janeiro, mas teve que ser abortado, pelo simples fato de que os pouquíssimos hotéis que teriam estrutura para receber uma competição com cerca de 1500 jogadores serem absurdamente caros e estarem em localidades onde as demais opções eram igualmente caras. Isto se dá porque o Rio de Janeiro tem um complicador imenso: recebe turismo de negócio e lazer ao mesmo tempo, a demanda é sempre alta, o que eleva os preços sobremaneira.

O evento foi realocado para um local paradisíaco, com opções de hospedagem a R$ 55,00 (café da manhã incluso)! E tem gente achando isto um abuso? Se o torneio fosse no Rio, 55,00/dia seriam gastos apenas com alimentação! E quem não ficasse no hotel, ainda teria o custo com transporte, etc. Mas, como o que importa é reclamar, essas questões ficam de lado. Fala-se até em uma obra arquitetada, já que no RJ “muitos” jogadores poderiam ficar na casa de amigos ou parentes! Para criticar por criticar, qualquer pessoa um pouco mais empenhada arranjaria justificativa até melhor…

Gostaria, nesta análise, de lançar alguns fatos, relacionados a outros mundiais realizados em outros países. Bem, em todos estes, os jogadores brasileiros tiveram que se hospedar nos hotéis conveniados (seja na França, na Turquia ou na Grécia – os três que me recordo sem esforço algum). Na França, os hotéis eram muito distantes, era uma viagem diária para se jogar as partidas, isto sem contar a péssima alimentação. Foi um show de horrores que rendeu ao organizador uma suspensão na FIDE. Mas disto ninguém lembra, porque o objetivo, como já dito, é atacar o organizador brasileiro. Tanto na Turquia, quanto na Grécia, os eventos não foram nas principais cidades, o que tornava obrigatório a hospedagem nos conveniados. Bem, lá os pacotes ficavam acima de 1.000,00 Euros e o pagamento era obrigatoriamente realizado via a Federação nacional (no caso da Turquia, os Gregos foram mais flexíveis, aceitavam depósito – ou seja, transferência internacional, que é tributada e aumenta o custo). No evento que será realizado em Caldas Novas/GO, há opção de pagamento com cartão de crédito, tudo direto com a organização e todos os tipos de opções de hospedagem, com preços variados, sendo todos os hotéis próximos ao salão de jogos, com deslocamento a pé.

Não vou nem tecer comentários sobre os valores que o organizador teve que antecipar à FIDE, como garantia do torneio. Nem os investimentos em infra-estrutura (já que o torneio não é composto só do local, mas de peças, relógios, tabuleiros,, equipe de arbitragem, etc.).

Concluindo, todo mundo tem direito de reclamar. Mas penso eu que isto deveria ser feito com justiça e imparcialidade, não com motivações pessoais, picuinhas, etc. Diz o ditado bíblico: “Dai a César o que é de César”. E aqui tem que ser dado ao organizador os parabéns pelo esforço em trazer o evento, correr atrás de um local que disponibilizasse preços variados de hospedagem, possibilitar pagamento por cartão e diretamente com a organização, entre outros tantos pontos positivos que são propositalmente esquecidos pelos “críticos”. Tem-se que reconhecer que é um esforço de 2 anos, já que esta história de mundial 2011 se iniciou em Outubro de 2009, durante o 80º Congresso da FIDE.

Pablyto Robert é presidente da Confederação Brasileira de Xadrez e árbitro internacional. Foi árbitro na olimpíada de xadrez de Dresden, Alemanha em 2008, entre outros inúmeros importantes torneios.

Pablyto Robert

Advogado Árbitro Internacional de Xadrez Arbitrou as olimpíadas de 2008 (Dresden), 2012 (Istambul), 2014 (Tromso) e 2018 (Batumi) e chefiou a delegação brasileira na olimpíada de 2010 (Khanty-Mansyisk) Ex-Presidente da CBX (2009/2012)

12 comentários em “A dura vida de um organizador de torneios

  • 06/04/2011 a 17:34
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    Parabéns pela conquista em trazer esse torneio para o Brasil e, principalmente, para a minha cidade, Caldas Novas/GO.
    Estamos ansiosos por ele!
    Um abraço para vocês!

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  • 06/04/2011 a 21:42
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    Parabéns Pablyto, neste artigo vejo que você deixa bem claro como é difícil de realizar grandes torneios e agradar a todos, pois sempre tem o grupo de oposição que está sempre reclamando e criticando,fazendo com que fique mais difícil a realização,eu já estive no RJ e em Caldas Novas/GO e creio que os enxadristas irão gostar.
    Abraço.

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  • 07/04/2011 a 00:11
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    Em 30 anos de xadrez (é, estou velhinho…) nunca vi um mundial no Brasil. Já vi sim muitos bons enxadristas deixarem de jogar o mundial pelo valor das passagens internacionais (e sendo menor ainda teria de levar acompanhante). Nunca vi um Zonal aberto como o que terá em junho. Nunca vi um Continental no Brasil (e em São Paulo!), como houve há pouco. Nunca vi regras tão claras (e me parecem justas) para a formação da equipe olímpica como colocadas atualmente. Em pouco tempo muitas realizações.

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  • 07/04/2011 a 00:56
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    Eu trabalhei no CONTINENTAL, no PAN AMERICANO FEMININO e agora no BRASILEIRO AMADOR, eu devo a essa gestão isso na minha vida , pessoas que me deram a oportunidade como o GM DARCY LIMA, o AI MAURO AMARAL, o AI PABLYTO , O AI BENTO entre outros grandes árbitros e amigos que fiz, pessoas que como eu amam nosso esporte e trabalham duro para isto acontecer, como disse meu amigo MF Sega (que aliás também é árbitro) nunca houve tantos torneios importantes na história deste país
    O problema como sempre é o ego e a inveja de pessoas que não fazem nada pelo xadrez e ainda ficam falando besteira.
    Conheço muito dirigente de xadrez ( uns que não são nem enxadristas e outros capivaras ) que enchem o bolso de dinheiro e não ensinam um criança sequer !!!! ou seja só resta criticar os outros que fazem algo de bom pelo nosso esporte.
    PARABÉNS A TODOS QUE CITEI ACIMA CERTO DE QUE TIVE MUITA HONRA EM TRABALHAR COM ELES E TEREI SEMPRE QUE FOR CHAMADO !!!!!

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  • 07/04/2011 a 12:16
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    Nascido exatamente no mesmo ano que o mestre Carlos Sega, também não poderei participar deste Mundial, mes deixo minha opinião: concordo que deve ser dado mérito aos organizadores pela realização destes eventos internacionais no Brasil.

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  • 07/04/2011 a 18:25
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    Amigo Cássio,
    como carioca eu preferiria o Mundial no Rio de Janeiro, mas já previa dificuldades de alojamento para tantos participantes.
    Mas se não pode ser ao pé do “Pão de Açúcar”, que seja em “Caldas Novas” (trocadilho infame este, hein?).

    O importante é que será no Brasil!!
    Espero que possamos estar juntos na mesma equipe novamente.

    Abraços!

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  • 08/04/2011 a 00:53
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    Natal, Felipe, Sega, Cassião e PC, agradeço as gentis palavras.

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  • 09/04/2011 a 01:23
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    É isso aí, Sr. Presidente…..
    Só quem organiza eventos de grande e até de pequeno porte, sabe a dificuldade da sua realização.
    Parabéns e SUCESSO.

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  • 13/04/2011 a 11:30
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    Realmente ocorre tudo que fora comentado, ítem po ítem !
    Como deu provas de competência, assessoria sublime, empenho e persistência o resultado sobressai favoravelmente!
    E ocorre até em cidades pequenas … incrível a semelhança dos fatos; até parecia estar relanto seus comentários designando-os a minha pessoa !
    Tenho que reconhecer … não são fáceis as tarefas de Organização, Direção, Arbitragem enfim, realização de eventos de tamanho complexidade; altíssimo nível … lamento, e, como faço por aqui, supero e continuo acreditando em Dias Melhores para desistir jamais !
    Solidarizo-me e reitero votos de estima e confiança … mesmo porque já “trabalhamos” seriamente juntos!
    cordialmente
    A.A. Maurílio Azevedo Alfenas/MG

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  • 30/05/2011 a 07:32
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    Sugiro como castigo aos críticos injustos que organizem torneios melhores do que este que criticaram. Tentarei fazer um Festival de Xadrez em Sete Lagoas(MG), de 19 a 21/8/2011 e já espero críticas porque será um torneio bem diferente dos habituais.(Consultem-me no furstruy@gmail.com, os interessados). Parabéns ao Pablyto pela sua ” garra”

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  • 30/05/2011 a 18:32
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    Pablyto, você nunca mediu esforços quando o assunto é xadrez, nem mesmo aqui na FESX!

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  • 26/07/2011 a 03:28
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    O que você fala sobre o esforço para organizar um evento é a pura verdade. Eu estive no Campeonato Brasileiro Amador e gostei muito. Conheci o prédio do Clube de Xadrez de SP e fiquei triste pelo fato de um imóvel tão bem localizado estar em condições precárias. Em um país onde o futebol reina supremo falta dinheiro para outras atividades tão nobres quanto o futebol. Se o xadrez tivesse, pelo menos, um centésimo do que o futebol tem… Mas, mesmo com as adversidades o campeonato foi bom. Levei peças e relógio e, apesar da grande quantidade de jogadores não foi necessário utilizar nada que levei.

    As críticas que você fala que um organizador recebe, infelizmente, são verdadeiras. As pessoas por desconhecimento da complexidade de eventos de grande porte (nunca organizaram nada) levantam comentários impertinentes por total desconhecimento da logística que é necessária. Já organizei pequenos campeonatos e deu para ter uma vaga idéia. Quando as críticas são frutos do desconhecimento de umdos lados é fácil explicar ao crítico ou aprender com ele. Mas quando são fruto de outros sentimentos humanos é mais difícil.

    Mas ao organizador a crítica injusta é uma variável com que é necessário saber lidar. Se o trabalho for bom quem tem a ganhar é a comunidade enxadrística o que é o mais importante.

    Espero que haja outro campeonado amador no ano vindouro.

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